DOR
Como bem lembra o poeta Celso Borges, quase nada do boi é do boi, quase tudo do boi é do homem. Este ensaio revela-nos o que mais de perto nos afeta. Confinados e conduzidos para caminhos outros, não reconhecíveis, pressentimos o pior, como se sentíssemos o cheiro de sangue do matadouro ainda distante. Ou quase perto.
Com o destino selado, choramos e agonizamos.
Mas as entrelinhas estão ali apontando nossos Brasis de sobreviventes e resignados.
Aqui a fotografia, em toda sua extensa e variadas formas, pretende refletir sobre a dor... Dor que vem da morte do boi, pois há uma profundidade mítica na dor do boi. O boi precisa morrer para que nós vivamos... E somos cúmplices desta dor, desta morte.
Boi morto
Como em turvas águas de enchente,
Me sinto a meio submergido
Entre destroços do presente
Dividido, subdividido,
Onde rola, enorme, o boi morto.
Boi morto, boi morto, boi morto.
[...]
Manuel Bandeira